terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A PAPAI NOEL


O "post" vai um bocado atrasado, mas não faz mal. Serve já para 2010!
ABRAÇOS e BOM ANO!


A PAPAI NOEL

Continuo acreditando no senhor, como nos velhos tempos em que também fui criança, mas francamente, o senhor não move uma palha para se tornar merecedor desse crédito. Pelo contrário cada ano está menos convincente e menos Papai Noel. Como garoto-propaganda, é uma tristeza. A molecada sabe que o senhor está anunciando produtos, em vez de distribuí-los a todos as crianças em distinção de classe. E alguns moleques até cogitam de tascá-lo. Todos sabem que o senhor foi contratado pela loja Tal da rua Tal para recomendar os seus produtos. Quando aparece na televisão, vendendo isso ou aquilo, dá vontade de acender um pau de fósforo nas suas barbas de algodão. O senhor exagerou. Desculpe, mas é a verdade;
Não sou dos que o acusam de ser estrangeiro. Para mim tanto faz se o Deus que cultuamos é estrangeiro, a terra que habitamos foi descoberta por um estrangeiro, e Virgílio e Mozart são estrangeiros. O que me aborrece é o senhor ser tão pouco o senhor mesmo, é ter saído à rua em vez de continuar morando no sonho da gente. Se materializou demais. E se banalizou demais. Passou a não existir como figura de imaginação, e - perdoe a expressão - se borrou todo. Continuo acreditando no senhor a despeito do senhor mesmo, mas se o senhor continuar assim, eu acabo aderindo ao Carlito Maia, trocando-o pelo Chaplin, amigo dos humildes e humilde ele mesmo, em seu anarquismo gozado.
Ciao, velhinho.
Carlos Drummond de Andrade

1 comentário:

C.Lopes disse...

Amigo Egas bem vindo a esta comunidade, a sua participação vai ser uma + valia para este Blog
vamos ter de lhe continuar a dar vida.
um abraço
c.lopes